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“O trabalho da mulher nunca foi uma ajuda, mas uma participação significativa na renda e na estabilidade social e econômica da família”

Por 4 de fevereiro de 2022Assuntos Gerais

Você já ouviu falar da metodologia das “Cadernetas Agroecológicas”? Essa metodologia, desenvolvida pelo Centro de Tecnologias Alternativas – CTA Zona da Mata,  vem sendo usada em um projeto realizado pelo Incaper que atua diretamente com mulheres rurais e da pesca no Espírito Santo, e que é financiado pela SEAG/FAPES. Um trabalho que vem sendo desenvolvido pela extensionista Alessandra Maria da Silva, coordenadora do projeto “A política estadual para as mulheres rurais e da pesca: uma análise do impacto socioeconômico e ambiental a partir da mediação feminista”.

Até o momento, as atividades acontecem com grupos de mulheres que trabalham e residem nos municípios de Anchieta, Boa Esperança, Itapemirim, Laranja da Terra e São Roque do Canaã. Segundo Alessandra, o projeto tem o objetivo de “avaliar a atuação da extensão rural, baseada na pedagogia feminista para atendimento às mulheres rurais e da pesca e na mediação do acesso às políticas públicas”.

Esta é a primeira entrevista do projeto “O Incaper é nosso!”, que virá com uma série de reportagens apresentando os servidores e as servidoras que são responsáveis pelas ações e pelos trabalhos desenvolvidos pelo Instituto junto com os produtores rurais e da pesca do Espírito Santo. Dessa forma, a ASSIN defende e reconhece a importância dos/as profissionais do Incaper para o crescimento e o desenvolvimento da sociedade capixaba.

Confira logo abaixo a entrevista completa que fizemos com a coordenadora do projeto.

Pode nos falar um pouco mais sobre o Projeto Cadernetas Agroecológicas Capixabas? Como ele funciona e quem é atendido pelo projeto?

O Projeto chama-se “A política estadual para as mulheres rurais e da pesca: uma análise do impacto socioeconômico e ambiental a partir da mediação feminista”. Por usar a metodologia das “Cadernetas Agroecológicas”, o projeto ganhou o apelido de “Cadernetas Agroecológicas Capixabas”. A Caderneta Agroecológica é uma metodologia desenvolvida pelo Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata (CTA-ZM) e que tem experiências desenvolvidas em vários estados do Brasil. No Espírito Santo, nossa experiência é pioneira.

O nosso projeto tem o objetivo de avaliar a atuação da extensão rural, baseada na pedagogia feminista para atendimento às mulheres rurais e da pesca e na mediação do acesso às políticas públicas. Nesse projeto, selecionamos cinco municípios e atendemos a seis grupos de mulheres. Em Anchieta, temos um grupo de mulheres indígenas na Chapada do A. Em Boa Esperança, temos um grupo de mulheres da Associação Esperança Viva, que produzem agroecologicamente. Em Itapemirim, temos um grupo de pescadoras vinculadas à Colônia de Pesca Z10. Em Laranja da Terra, temos um grupo de mulheres quilombolas da comunidade de Santa Luzia. E em São Roque do Canaã, temos dois grupos de mulheres descendentes de italianos que trabalham com agroindústria de massas.

Estamos atendendo às mulheres nas suas necessidades laborais e, ao mesmo tempo, pesquisando o espaço que elas ocupam, a renda direta ou indireta advindas de suas atividades produtivas, além de promover rodas de conversa e intercâmbio com o intuito de conscientização das relações de gênero no campo. A proposta é dar visibilidade ao trabalho da mulher, avaliar as desigualdades de gênero existentes e promover o empoderamento socioeconômico e ambiental. Ao mesmo tempo, avaliar a atuação da extensão rural no atendimento a essas mulheres.

Grupo de mulheres da Associação Esperança Viva, em Boa Esperança – ES

Como surgiu essa ideia e quais são os objetivos do projeto?

A ideia surgiu a partir dos resultados da minha pesquisa de doutorado, quando observei que as políticas públicas para as mulheres não estavam sendo devidamente implementadas, porque os agentes mediadores não tinham formação em relações de gênero, estando naturalizados com as desigualdades entre homens e mulheres. Assim, políticas como o Pronaf Mulher estavam sendo acessadas pelos maridos e não pelas mulheres.

Então, no projeto Elas no Campo e na Pesca nós promovemos a capacitação dos extensionistas para utilização de uma ATER especializada para as mulheres. Dentro da proposta de valorização e visibilidade que o projeto Elas no Campo e na Pesca traz, propusemos e aprovamos dois projetos para mulheres no Edital Banco de Projetos de Pesquisa da SEAG/FAPES, com o mesmo propósito: o projeto das Cadernetas Agroecológicas Capixabas e o projeto Mulheres do Cacau.

Como respondido anteriormente, no projeto das Cadernetas Agroecológicas Capixabas buscamos qualificar a ATER para uma atuação voltada para reduzir as desigualdades de gênero e ao mesmo tempo avaliar a atuação extensionista com as mulheres, utilizando esse método.

Como essa ação acontece?

Não é uma ação isolada. É um acompanhamento sistemático de aplicação da metodologia. Esse método consiste na averiguação diária do que a mulher produziu e foi consumido, doado, trocado ou vendido. Mesmo quando consumido, doado ou trocado, atribui-se valor monetário ao produto, pois isso compõe renda indireta da família, ou contribui para a segurança alimentar e nutricional de quem consome/recebe ou para o capital social. Esse valor monetário é computado na renda familiar e auxilia no processo de reconhecimento e valorização do trabalho da mulher. Além disso, são aplicados mapas da sociobiodiversidade, entrevistas semiestruturadas e rodas de conversa que contribui para que as mulheres percebam sua importância na família e na sociedade e, consequentemente, para o seu empoderamento.

Qual a importância de se desenvolver essas atividades com as mulheres do campo e da pesca?

A importância reside justamente na necessidade de dar visibilidade ao importante e indispensável trabalho da mulher, que nunca foi uma ajuda, mas uma participação significativa na renda e na estabilidade social e econômica da família. Além disso, a extensão rural sempre teve um viés machista em suas ações, especialmente quando consideram o homem como chefe e representante da família, concedendo a ele o privilégio do acesso às tecnologias e políticas públicas em detrimento das mulheres. Com uma ATER qualificada, provavelmente haverá uma menor desigualdade entre homens e mulheres no campo. Ainda é cedo para apresentar resultados da pesquisa, mas é possível observar que o projeto tem trazido maior envolvimento e organização das mulheres.

O que vocês aprenderam com essa ação e de que forma ela contribui para o fortalecimento e o reconhecimento das mulheres dentro da agricultura familiar?

Estamos aprendendo muito com essas ações por mostrarem as nuances e especificidades do trabalho com mulheres. Esperamos que o resultado possa nos nortear para ações futuras e que sirva de referência de ATER para outros extensionsitas do estado e fora dele. O trabalho especializado para mulheres auxilia no processo do desenvolvimento da consciência de gênero dos atores envolvidos e, assim, o trabalho da ATER e o resultado das políticas para mulheres tendem a ser mais efetivos e a contribuir de fato com o desenvolvimento rural sustentável e mais justo.

 

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